A Casa Azul (Museu Frida Kahlo)

quinta-feira, 12 de março de 2009




O que faz  especial A Casa Azul é que aqui nasceu, viveu e morreu Frida Kahlo. Entre estas paredes, a artista construiu o seu mundo, e aqui há o espírito criativo que anima sua obra.
Aqui não só se expõem os quadros de uma das pintores latino-americanas mais reconhecidas, mas também se descobre a parte cotidiana e quase anônima de uma mulher, de uma família, de um casamento e dos amigos que rodearam a jovem Kahlo-Rivera.

Casa Azul é acima de tudo: uma casa, um espaço onde os objetos falam e convidam pra uma visita íntima.


A Casa Azul

Na Casa Azul estão os quadros que fizeram famosa a artista: Viva la Vida, Frida y la cesárea,  - mas também está sua cama ladeada pelos retratos Lenin, Stalin, Mao Tse Tung – como o cavalete que lhe foi dado por Nelson Rockfeller. Estão os espelhos – pequenos, de corpo inteiro e o de cima de sua cama – aqueles que se observava cuidadosamente,  e estão seus pincéis, aqueles com que se reinventava. Está sua coleção de borboletas – que a descobre como uma amante da natureza – e sua coleção de vestidos – que a revela uma mulher de determinadas vaidades.

Exterior da Casa Azul

Nesta casa cheia de contrastes, convivem sem prejuízos os dolorosos espartilhos – uns de gesso decorados, outros de couro e metal – Cada objeto fala e muito – como brinquedos, artesanato, utensílios de cozinha, jóias – foram tanto uma parte do mundo de Frida que estão incluídas em suas telas.

Um tour por coisas e quadros que também falam das origens de Frida. A Casa Azul foi propriedade da família Kahlo desde 1904, três anos antes de nascer a pintora. O pai, Guillermo, era fotógrafo. No quadro Retrato de Família, Frida apresenta uma curiosa árvore genealógica onde se mesclam o sangue húngaro do Pai e a oaxaca¹ da mãe.

              

No início, a casa era branca, mas Diego e Frida a pintaram de azul, como uma homenagem às cores vivas da tradição mexicana. A construção já tem esta cor no quadro de 1936, Mis abuelos, mis padres y yo.

O retrato de Augustin M. Olmedo, na sala 1,  é uma testemunha silenciosa da forte personalidade de Frida. A tela mostra um rasgo feito pela artista quando soube pelo homem que o retrato “não valia nem um centavo”.

Temperamental e direta, Frida construiu um caráter à prova de uma deficiência provocada por uma poliomielite infantil e, mais tarde, aos 18 anos, pelo acidente que mudaria a sua vida. Em 17 de Setembo de 1925, o ônibus em que Frida viajava, é atropelado por um Bonde.

Uma barra lhe atravessa na altura da pélvis, causando sérias fraturas na espinha dorsal. Imóvel por um tempo, Frida começa a pintar.

Apesar da má saúde, a pintora tinha um natural senso de humor quase sarcástico. Ruina, na sala 2, foi um presente que a artista fez pra Rivera, em 1947, como uma sensura às infidelidades do muralista. Os relógios também são eloqüentes. Em um Frida marca a data – 1939 – na qual se divorcia de Diego. No outro, um ano depois, escreve a hora e dia de seu segundo casamento com Rivera.

Ruina

Na Casa Azul, viveu também, uma artista politicamente comprometida: "Frida e Stalin e o marxismo dará saúde aos enfermos"  deixam ver uma pintora contrária ao imperialismo norte-americano, voltada a grupos de esquerda aos quais, Diego dedicou parte de seus lucros.

A cozinha é um dos aspectos que mais fala do cotidiano da artista. Na Casa Azul, se faziam festa e se recebiam os amigos – cujos trabalhos e nomes adornam as paredes. O tamanho dos "comedores"  e dos terraços no jardim, falam de uma casa aberta as visitas. Contudo esta foi uma construção viva, que foi se modificando de acordo com as necessidades e altos e baixos do casamento. Diego mandou ampliar a casa em 1937, quando decidiram dar asilo a Trotsky e sua mulher. Da mesma forma em 1947, Diego construiu um estúdio para Frida. Também depois do divórcio, se desenvolveram dois quartos separados, que Frida e Diego ocuparam até a morte da pintora.


     Cozinha

A Frida amante de Diego e dos gostos de Diego respira por todo o lugar. Nos jardins onde caminharam macacos e papagaios, atestam a fascinação do casamento pela arte pré-hispânica.

Aqui se mostra uma pequena parte da coleção que Diego foi adquirindo ao longo de 30 anos – 54 mil peças - e que é admirado em todo o seu esplendor no Museu Diego Rivera-Anahuacalli.

   O diário de Frida

Tanto em sua obra – influenciada pela estética visual dos retábulos² religiosos – na sua vida cotidiana e mesmo a sua língua – irreverente e desenrolado- , Frida lutou pra demonstrar que nas raízes populares se encontrava a identidade nacional.

A Casa Azul é também uma homenagem tanto para artistas do século XX - Clausell, Orozco, Tanguy, Velasco – como para a arte popular. As esculturas em madeira de Mardonio Magaña, artista descoberto por Diego Rivera; a sala do exvotos³, uma das coleções mais interessantes a respeito, e s trabalhos de papelão de Carmen Caballero, a "judera" de cabeceira do matrimônio são exemplo vivo disto.

Entre arte e artistas, também conviveu uma Frida prática, uma dona de casa que fazia economias em casa e registrava o saldo de ganhos: assim demonstra o livro de contabilidade que se encontra no estúdio.

A Frida de carne e osso morre em 1954.  E foi cremada, conforme seu desejo. Diego guardou as cinzas numa urna pré-colombiana, pedindo expressamente que, quando morresse, fosse também cremado e que as cinzas fossem colocadas junto às de Frida. No entanto, por ocasião de sua morte, a mulher atual e as filhas desrespeitaram sua última vontade, expressa inclusive em testamento. Acreditaram que seria melhor para o país se ele fosse enterrado na "Rotonda de hombre famosos", na cidade do México.

 

 

Em 1958, a Casa Azul se abre ao público. Desde então, recebe por ano mais de 200 mil pessoas que buscam a bandeira da feminista Frida, a Frida objeto de culto, a Frida mito, alimentado inclusive por ela mesma.

E, quem sabe, cada visitantes que passeia pelos espaços que Frida amou habite já, de maneira própria, esta casa e seus objetos.



¹ Oaxaca é um dos 31 estados do México, localizado na parte meridional do país.

² Retábulo (do espanhol retablo) é uma construção de madeira, demármore, ou de outro material, com lavores, que fica por trás e/ou acima do altar e que, normalmente, encerra um ou mais painéis pintados ou embaixo-relevo.

³ Abreviação latina de ex-voto suscepto ("o voto realizado"), o termo designa pinturas, estatuetas e variados objetos doados às divindades como forma de agradecimento por um pedido atendido. Trata-se de uma manifestação artístico-religiosa que se liga diretamente à arte religiosa e à arte popular, despertando o interesse de historiadores da arte e da cultura, de arqueólogos e antropólogos. As motivações do presente votivo são muitas: proteção contra catástrofes naturais, cura de doenças, recuperação em virtude de sofrimentos amorosos, acidentes e dificuldades financeiras. O voto feito aos deuses, por sua vez, também adquire formas muito diversas: placa, maquete ou pintura descrevendo os motivos da promessa, ou pequenas réplicas (de barro, madeira ou cera) das partes do corpo afetadas por moléstias (perna, cabeça, mão, coração etc.), chamadas por alguns de "ex-votos anatômicos". Designam-se "ex-votos marinhos" aqueles em forma de barcos, realizados em regiões litorâneas. Colocados em locais públicos - capelas ou sala de milagres -, os painéis ou presentes votivos trazem freqüentemente a inscrição "ex-voto" ou "milagre feito".


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